Ainda sozinha, arruma todas as coisas para a festa. Não que a festa seja algo muito importante, mas mesmo assim confere tudo pela milésima vez. A bebida no congelador, os copos comprados especialmente para essa noite, o som, a luz. Tudo neuroticamente ajeitado para que todos se sintam bem em sua casa. Todos foram convidados com um sorriso no rosto para que, desde o princípio, nada saia errado. Sempre fora gentil. Sempre se preocupou ao extremo para que tudo estivesse detalhadamente certo. Agora não seria diferente.
Há algo nessa garota que parece estar sempre escondido. Uma mágoa, uma dor. Se esforça ao máximo para que as pessoas gostem dela. Há nela uma súplica silenciosa, que implora aos sussurros de olhares a aprovação de todos. A mera alusão ao desagrado alheio lhe espanta tanto que chega a sentir o peito apertar cada vez que pensa nisso. Assombra-lhe imaginar que, por qualquer motivo, alguém possa não gostar dela.
Em meio a sorrisos, histórias e bebidas todos riem. Riem alto. Alto demais. No andar de cima, seus pais já brigaram com ela uma dezena de vezes durante a noite. É tarde. Ela olha em volta, tudo gira, as pessoas conversam alto. Cercada, sente-se sufocadamente sozinha. Talvez pela bebida, talvez por não aguentar mais essa estranha dor que carrega, esse estranho vazio que desde outrora habita seu peito e que tentara a noite toda encobrir com sorrisos, ela explode em lágrimas. Aos soluços tem que mandar todos embora.
Qualquer um em seu lugar diria algo como "Ok, pessoal. A festa acabou!". Ela não. Ela chora e pede desculpas. Só consegue pensar no que irão achar dela no dia seguinte. E ao pensar nisso, chora mais. Cada um que passa pela porta leva junto um pedido de perdão. Cada um que passa se importa menos. Os olhos dela parecem temer a solidão que inevitavelmente segue e suplicam: "Por favor, não me odeiem". É como se cada pessoa que vai embora arrancasse um pedaço daquela aprovação que tanto necessita. "Por favor, não me odeiem".
O último convidado vai embora. Ela fecha a porta e senta nas escadas, sozinha no escuro de seu pesadelo particular, esfrega os olhos, remove o resto da maquiagem que resta e, pensando nos que saíram, pede desculpas mais uma vez. "Por favor, não me odeiem".
Um comentário:
Adorei! muito profundo, mesmo!
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