Nada como pegar um trem lotado às 18h de um dia de verão. Como se não bastasse o calor infernal da rua, dentro dos vagões ele era maximizado pela aglomeração das pessoas. A maioria voltando do trabalho. Espremendo-se em centímetros quadrados, sofria-se para entrar, para sair, para ficar.
Suores e odores dos mais variados deixavam o ar carregado, denso, difícil de respirar. Pessoas que traziam nos rostos a expressão do cansaço estampada. Em um cenário quase sem cor, notava-se de olhar em olhar um tom de tristeza pairando, espreitando, como se fosse crescendo a cada estação em que o trem parava e mais um punhado de pessoas embarcava.
De um lado, sentados lado a lado, alguns pareciam ensaiar uma espécie de dança. Um balé sincronizado de olhos fechados e balançar de cabeças no ritmo do chacoalhar do trem. Vez ou outra, um destes abria os olhos para verificar em que estação estava, mas rapidamente fechava como que para fugir daquela realidade.
Do outro lado, outros reclamavam. Do calor, dos passageiros, da vida. Alguns, entretanto, pareciam seguir o percurso todo em universos paralelos, alheios aquele caos, vezes com fones de ouvido, vezes com pensamentos e devaneios. Contudo, ambos com o mesmo olhar distante e profundo que ia muito além das janelas dos vagões.
Parecida com tal, era a expressão de uma senhora idosa sentada junto à janela. Com os cabelos grisalhos, pele enrugada e - apesar do calor - roupas de lã. Ela parecia a minha avó ou a avó de um amigo. Tinha a expressão comum, doce, bondosa e clichê que toda avó tem.
Porém, diferente dos outros, seu olhar não era vago, nem as expressões de seu rosto eram tristes e cinzas como as demais. Ela olhava encantada para a rua enquanto o trem se aproximava do aeroporto. Quando, ainda de longe, enxergou a ponta de um avião subindo e rasgando o céu como um gigante alado, percebia-se claramente em seu rosto a surpresa, o estranhamento e a alegria de algo visto pela primeira vez. Quanto mais perto, mais arregalados seus olhos ficavam. Sussurrado entre seus sorrisos, ela deixou escapar um “Meu Deus”, como se o que via fosse um milagre do próprio.
Ali, sentada anexa a todo o caos, calor, desconforto e confusão, estava aquela senhora, sorrindo e achando aquele o melhor lugar do mundo.
Eu? Sorri também.
2 comentários:
Tem pessoas que olham certas coisas de outra forma, buscando toda positividade.
Vovós sempre inspiram :) Baita texto!
Beijo
Postar um comentário